quarta-feira, setembro 21, 2016

IML FALIDO - Após dois meses, corpos continuam empilhados no IML e servidores falam em situação caótica

A situação dos corpos empilhados no Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba parece ter ganho um novo capítulo. Embora o sepultamento de 22 corpos tenha ocorrido em julho, a superlotação e a falta de estrutura continuam causando transtorno aos servidores e familiares. No último sábado, pais de um jovem morto na região metropolitana tiveram de aguardar cerca de cinco horas em frente ao pátio do IML para concluir a liberação do corpo do rapaz.

A quantidade de corpos e a falta de estrutura para armazenar afetam o dia a dia na rotina dos trabalhos. Hoje, há 108 corpos sem identificação e reclamação, ou seja, sem contato com as famílias, que aguardam para serem enterrados. Desses, onze já estão aptos a serem sepultados. Outros 60 aguardam tramitação judicial.

O presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar), Leandro Cerqueira, afirma que a situação continua crítica. “Temos dois problemas ali, o primeiro envolve a logística de enterro dos corpos que não são reclamados pelas famílias, ou que não tem identificação, em torno de 5% dos corpos que dão entrada, e isso aliado a uma falta de estrutura porque o prédio e os equipamentos são da década de 70, acabam não comportando o volume de perícias e de corpos”, descreve.

Os corpos que se aglomeram no IML precisam ser enterrados no município responsável pela perícia e necrópsia. “Na prática, como Curitiba é responsável pelo atestado de óbito, acaba arcando com a destinação de todos esses corpos, mesmo da região metropolitana. Até o meio desse ano, tinham sido necropsiados dois mil corpos, 5% são os não reclamados, cerca de cem corpos que ficam sob responsabilidade do município realizar o sepultamento”, contou.

Na última mobilização, em julho deste ano, havia 140 corpos aguardando destino final – 22 foram enterrados, após divulgação da Banda B. O estopim foi o caso do corpo de um andarilho que passou três dias em uma unidade de saúde em Colombo, já que o IML afirmava que não haveria recolhimento por falta de espaço nas geladeiras.

Superlotação

O IML comporta 60 gavetas que armazenam os corpos em condições ideais, e que deveriam servir apenas de maneira rotativa – aguardando reclamação de familiares, liberações, reconhecimentos. No entanto, com o aumento de corpos e a ausência de familiares para a retirada do corpo, faltam espaços nas gazetas e muitos acabam sendo levados para a câmara fria, conhecida entre os funcionários como, sala do horror.

“É uma sala refrigerada, como se fosse um freezer grande, que está com a porta estragada. São cerca de 40 corpos que ficam ali e quando tem que liberar algum, por exemplo, e se ele está no fundo, tem que mexer em todos, colocar para fora da câmara, acha o corpo, coloca todos de volta”, descreve. O espaço tem cerca de 4 m2 e abriga corpos em prateleiras e até mesmo no chão.

A condição insalubre dos funcionários também é colocada em questão na falta de estrutura, já que há líquidos que escorrem de dentro da câmara, que causam forte odor e riscos de contaminação.

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